sala VIP

sexta-feira, 4 de junho de 2010

desejo de torturar criança I



Na década de setenta, no prelúdio de minha vivência na construção da rede cognitiva sobre o mundo, conheci uma família, de grande prole, que vivia em estado de penúria. O pai fazia jacás de cipós e bambus para vender na feira livre de Floriano (PI); a mãe, de casa em casa, andava pedindo, toda cheia de vergonha, um punhadinho de farinha, uma xícara de arroz, uma colher de açúcar, uns grãos de feijão, etc. Os filhos eram tão magricelos que poderiam ser expostos numa aula de anatomia.
As crianças, extremamente sorumbáticas, não tinham ânimo para brincar. Passavam a manhã toda com um olhar de medo a esperar o pai que saia para vender os jacás e, ao retornar, geralmente meio eufórico pela bebida, açoitava, sem nenhum motivo aparente, os coitados.
Hoje, acho que descarregava as frustrações e insucessos do cotidiano nas crianças. Não é a pobreza, acredito, que converte um indivíduo num torturador, mas um desvio doentio psicológico adquirido, pois os ricos também se “divertem” torturando o semelhante.
Na época, era difícil alguém fugir de casa, mas hoje muitas crianças ganham as ruas porque se sentem injustiçadas pelos julgamentos e aplicações de duríssimas penalidades pelos pais, tutores, responsáveis, etc.
Estive conversando com algumas crianças e percebi que carregam um sentimento ativo que eu não sei descrever. Esse sentimento não se resume aos seus progenitores, tutores, responsáveis, etc, mas se estende a toda sociedade, pois, declaradamente para alguns, matar e morrer são verbos similares. Do jeito perdido e desconsolado que olham o mundo, não se pode duvidar. Nos olhos delas não existe medo, amor ou ódio, mas algo congelado duramente transmitindo que nada faz sentido.
Educar açoitando é um paradoxo: não se gera amor ferindo a alma.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...