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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

De repente, 2010!


No meu período de infância, a literatura de cordel (cordão) era muito difundida. Os vendedores de cordel, através de megafones, cantavam, pesarosamente ou animadamente, os versos das brochuras impressas em papel ordinário. O povo, no meio de feiras livres, acotovelava-se para ouvi-los. De quando em vez, os vendedores interrompiam a leitura e, portanto, como condições para continuar a estória, estipulavam a venda de uma determinada quantidade de exemplares do cordel em voga. Lembro-me de alguns títulos famosos como, por exemplo, “O capitão do navio”, “As proezas de João Grilo”, “A chegada de lampião ao inferno”, “O fim do mundo”, etc.
Os versos de “O fim do mundo” diziam, entre muitas profecias populares bizarras, que o mundo não completaria 2000 anos, segundo o calendário gregoriano. Muita gente se emocionava e, no meio da multidão, chorava. Eu contava nos dedos quantos anos teria no majestoso e apocalíptico ano 2000 e, fazendo uma rápida avaliação, ficava satisfeito com a projeção. Pra mim, na época, os dias passavam-se tão lentos e, portanto, tudo me parecia eterno... Inclusive a minha família. Hodiernamente, sinto que o tempo pretérito foi rápido e o futuro parece-me muito distante. Os meus projetos se resumem a curtos e médios prazos. O fim do mundo fica, a cada dia, mais próximo: ninguém é eterno.
De repente, 2010. Um charmoso número: vinte, dez. Colocarei pequenos projetos debaixo do braço e, portanto, com a cabeça erguida, marcharei dinamicamente para o futuro que, em um dia tenebroso qualquer, se transformará num buraco negro.
De repente, dois mil e tanto!

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