sala VIP

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

como "enlouquecer" as mulheres



A noite estava sombria e sem empolgação. Cheguei num barzinho de periferia. Puxei uma cadeira que circunvizinhava uma mesa circular e, instintivamente, sentei-me esquecido e agredido por uma tristeza mórbida.
Ao longo da noite estéril, bebi todas as cachaças e mais algumas. De manhã, o despertador do celular pulsava nervosamente no quarto e, de propósito, obrigava-me a rolar macanicamente sobre a cama desalinhada. Queria postergar, sufocando o travesseiro entre os braços e contraindo freneticamente as pernas, o momento de levantar-me. Não tolerei o insistente celular e, meio sonâmbulo, trôpego e dominado pela ressaca, levantei-me, completamente nu, e desativei o alarme eletrônico. Bocejei. O bafo fétido, vinhado e etílico invadiu o quarto. Tossi. Espreguicei-me. Abri os olhos e vi as roupas jogadas no chão, as gavetas do guarda-roupa abertas, a cueca empendurada na maçaneta da porta, um pé de sapato no Oiapoque e outro no Chuí. Com dificuldades, localizei a chave do banheiro. Abri a porta do quarto, caminhei apoiando-me nas paredes dos corredores, entrei no banheiro e, como um bambu açoitado pelo vento, comecei, com os olhos semi-fechados, a fazer xixi. A tampa da bacia sanitária ficou completamente molhada com um líquido amarelo, salgado e morno. Não dei descarga. Uma poça no chão acusava: eu errara o alvo. Virei-me e, colocando o creme dental na escova, comecei a esfregar os dentes. As bordas da pia de louça ficaram completamente pulverizadas de branco. Desci o primeiro lance de escada e, no último degrau, sentei-me: o cérebro não conseguia coordenar a massa corpórea. Com os olhos fechados e uma ânsia incontida de vômito, coloquei a cabeça entre as mãos. O intestino entrou em frenéticas convulsões e obrigou o meu corpo a arriar pra trás. Deitei-me sobre os degraus. Depois de algum tempo, cuja cronometragem eu não sei precisar, levantei-me e desci o segundo lance de escada. Ganhei a sala, que é conjugada com a cozinha, e marquei passos com dificuldades. Coçando os testículos gostosamente, abri, com o cotovelo do braço direito, a geladeira. Olhei para um lado e pro outro e, então, tomei água diretamente na boca da jarra. Animalescamente, arrotei. Atirei a jarra vazia dentro da geladeira. Fui ao armário. Tomei cinqüenta ou cem gotas de dipirona sódica. Não tive paciência de contar gota após gota. Apenas estimei a quantidade e bebi. Subi os dois lances de escadas. Adentrei no banheiro. Tirei a roupa e deixei-a descansando sobre a bancada, em cima dos produtos de higiene. Tomei um banho prolongado. O banheiro ficou todo molhado e com espumas de sabonete protex escorrendo pelas paredes. Nem liguei. Enrolei-me na toalha e fui pro quarto. Joguei a toalha, completamente encharcada, num dos quadrantes da cama, e, físico e mentalmente esgotado, atirei-me nela. Dormi o dia inteiro.
Infelizmente, mulheres, esses maus comportamentos são típicos e intrínsecos dos homens, portanto, peço-lhes que tenham, na convivência cotidiana, paciência com os seus “príncipes encantados”.
Zé Doca (MA), 2009

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